Sócio diretor da Hotel Invest, Diogo Canteras falou sobre as perspectivas da hotelaria nacional para os próximos anos durante a 2ª HSMAI 2015 Strategy Conference, que acontece hoje (16), no Pullman São Paulo Ibirapuera. Como que posicionando uma lupa sobre as nuances do setor, o executivo apresentou as causas e consequências da atual crise econômica do País e como ela afeta a perfomance hoteleira, além de mostrar o desempenho das principais capitais brasileiras no segmento.
Olhando especificamente para a atividade, Canteras pondera os ciclos da hotelaria no País e a existência de superoferta em alguns destinos como Salvador e Belo Horizonte. Lugares que, segundo ele estão fadadas a anos ruins nas próximas temporadas. “São cidades que recentemente tiveram bons momentos e receberam grande incentivo para implantação de novos meios de hospedagem, contudo sem criar demanda”, resume. “Sobre São Paulo, vemos que foi a capital que sentiu a crise antes que ela chegasse, o Rio de Janeiro congrega dois destinos num só – Rio e Barra -, Curitiba e Porto Alegre tiveram resultados absolutamente estáveis”.
Numa linha cronológica, essas ponderações são concernente ao primeiro governo Dilma Rousseff, quando as causas da crise vieram mas não as consequências. “Na entrada do segundo governo da presidente o mercado percebeu que precisava de um ajuste de conduta. Logo no início do ano houve uma mudança forte de intenções e os reajustes a partir daí são naturais”, considera.
Nesse segundo momento, os números mostrados por ele ilustram São Paulo sofrendo menores efeitos de uma turbulência já assimilada, mantendo, inclusive, indicativos de diária média parecida. No Rio houve queda de 8% na ocupação. Em Salvador retração em diária e ocupação. Curitiba mostrou recuo de 8% no RevPar – receita por apartamento disponível. Porto Alegre caiu quase 20% nesse mesmo quesito. E Belo Horizonte foi campeã do desempenho negativo, com -41% de RevPar.
“A preocupação maior é que principalmente os custos subiram. A inflação está alta e a diária não tem subido como os gastos”, sintetiza traduzindo o problema que mais aflige os hoteleiros em meio a outros tantos. Ao passo que os gastos sobem acima da inflação as tarifas não tem o mesmo crescimento e isso é a causa dos resultados negativos.
“O que vai acontecer com esse setor está diretamente relacionado ao que ocorre com os drivers, que nada mais são que fatores influenciadores como crescimento do PIB, petróleo, câmbio, reaquecimento do mercado imobiliário e CVM (Comissão de Valores Mobiliários)”, pontua o representante da Hotel Invest. Começando pelo PIB, segundo ele, tem perspectivas de queda neste e no próximo ano, que complica os prognósticos e deixa pessimista o empresário que pensa em investir. “Existe correlação entre PIB e demanda hoteleira. Quanto mais cresce o PIB mais se desperta o interesse de empreendedores. Mas do lado contrário isso também é verdade”.
No caso do petróleo o palestrante apresentou estudos com expectativas pessimistas sobre a recuperação do preço do barril, que caiu 60% do preço desde o ano passado. Quanto ao dólar a beneficiada é a hotelaria de lazer, os resorts, que viram seu público aumentar com a impossibilidade do público em realizar viagens ao exterior. “A indústria de lazer, de 2013 para 2015 cresceu 33% por isso. A ocupação dos resorts cresceu a 57%”, aponta. Nesse mesmo sub-tema aparace outro cliente: o turista que antes escolhia os cruzeiros e passou a ir para resorts por serem cobrados em moeda nacional. “Esse cenário faz com que haja uma tendência a se investir em resorts. Faz todo sentido”.
Como último driver de grande importância, Canteras pondera o aumento de participação da CVM. “Nunca tivemos muitas opções de financiamento para hotel. Tínhamos que fazer com capital próprio, empréstimo, fundos de investimentos – que são pouquissímos – e a grande fonte eram os condo hotéis, que figuram até hoje como a maneira mais usada para viabilizar os edifícios”, inicia. “O problema é que esses eram dois negócios. O primeiro imobiliário e depois hoteleiro. Acontece que nem sempre isso era feito com cuidado. E a partir de março deste ano a CVM começa a entender que este é um produto de investimento que precisa de dispensa de registro com algumas exigências”
Nessa questão, Canteras fala sobre a deliberação 734, de março deste ano. Quando a operadora e a incorporadora são co-ofertantes do projeto, sendo obrigadas a construir um projeto mais embasado para as construções. “Isso é positivo e vai fazer com que não aconteçam mais investimentos sem estudos aprofundados”.
Ao final, o palestrante fez algumas considerações sobre o panorama. “Eles têm que se preparar para crises prolongadas, cortando custos. Também é necessário lembrar que estamos falando de empreendimentos de terceiros e é necessário deixá-los prevenidos. Os ativos hoteleiros não se tornaram micos. A entrada da CVM fez com que o mercado fique menos arriscado, a longo prazo vale mais a pena”.
“Do ponto de vista das empresas, é importante desenvolver empreendimentos que tenham boas perspectivas de crescimento. A recomendação é minimizar a diminuição do preço das diárias médias. É difundir a prática de revenue management”.
Fonte: Hôtelier News
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